Comprar um imóvel na planta é um sonho comum para muitas pessoas, principalmente porque oferece condições de pagamento mais flexíveis e a possibilidade de adquirir um bem que tende a se valorizar com o tempo.
No entanto, esse tipo de negociação também envolve riscos jurídicos e exige atenção redobrada antes de assinar qualquer contrato.
Um passo em falso pode trazer prejuízos financeiros e problemas legais que poderiam ser evitados com informação e cautela.
A seguir, vamos explorar os principais cuidados jurídicos que devem ser considerados antes de fechar negócio em um imóvel na planta.
A importância da análise contratual detalhada
O contrato é a base de qualquer negociação imobiliária, e no caso de imóveis na planta, ele costuma ser extenso e repleto de cláusulas técnicas.

Muitos compradores, na empolgação, acabam assinando sem ler ou compreender todos os termos. Isso é um erro grave.
É fundamental revisar pontos como:
- Prazos de entrega da obra: devem estar claramente definidos, com previsão de multa em caso de atraso.
- Correção do valor das parcelas: contratos geralmente preveem reajustes baseados em índices como o INCC (Índice Nacional da Construção Civil). É preciso entender como isso impactará no orçamento.
- Cláusulas de rescisão: verifique quais são as penalidades caso você precise desistir do contrato.
- Multas e encargos: tanto em caso de inadimplência do comprador quanto em atraso da construtora.
Recomenda-se contar com a análise de um advogado especializado em direito imobiliário, que poderá identificar cláusulas abusivas ou termos desfavoráveis ao comprador.
O histórico da construtora e a segurança jurídica
Outro ponto que merece atenção é a reputação da construtora responsável pelo empreendimento.
Infelizmente, existem casos de empresas que não entregam os imóveis, atrasam obras ou enfrentam processos judiciais que comprometem a conclusão do projeto.
Antes de investir, pesquise:
- A situação da construtora junto aos órgãos de defesa do consumidor.
- Se há processos judiciais relacionados a obras não concluídas.
- O histórico de entrega de outros empreendimentos.
- A regularidade da empresa no CNPJ e em órgãos de classe, como o CREA.
Essa investigação pode evitar surpresas desagradáveis e garantir maior segurança no investimento.
Registro de incorporação: um documento essencial
Um dos principais cuidados jurídicos ao comprar imóveis na planta é verificar o registro de incorporação imobiliária, documento emitido no cartório de registro de imóveis que comprova que o empreendimento está regularizado.
Sem esse registro, a comercialização das unidades é ilegal.
Ele garante que o terreno pertence de fato à construtora e que o projeto tem autorização para ser executado. Portanto, peça esse documento antes de assinar o contrato.
A cláusula de tolerância e seus limites
É comum que contratos de imóveis na planta incluam a chamada cláusula de tolerância, que permite à construtora atrasar a entrega em até 180 dias sem sofrer penalidades.
Apesar de ser uma prática aceita pela Justiça, é importante observar:
- O prazo deve estar claramente definido no contrato.
- Passado esse período, o comprador tem direito a indenização.
- O atraso pode justificar a rescisão contratual sem prejuízo para o consumidor.
Compreender essa cláusula evita frustrações e ajuda a planejar a mudança de forma mais realista.
Financiamento e aspectos jurídicos
Boa parte das compras de imóveis na planta é feita com financiamento bancário.
Nesse caso, além de analisar o contrato com a construtora, também é necessário estudar as condições do banco.
Itens a avaliar:
- Taxas de juros e encargos.
- Condições de amortização de financiamento.
- Possibilidade de portabilidade do crédito, caso encontre melhores condições em outro banco.
O contrato de financiamento também deve ser registrado em cartório, para garantir a validade jurídica da transação.
Alterações no projeto e direitos do comprador
Outro aspecto que costuma gerar conflitos é a possibilidade de a construtora realizar mudanças no projeto.
Isso pode incluir alterações em áreas comuns, na metragem dos apartamentos ou até na disposição de vagas de garagem.
Por lei, modificações significativas só podem ser feitas com a concordância de todos os compradores.
Mudanças pequenas e que não afetem diretamente o uso do imóvel podem ser aceitas, mas é essencial ler com atenção o que está previsto no contrato.
Taxas adicionais e cobranças indevidas
Muitos consumidores são surpreendidos com cobranças não previstas inicialmente. Entre as mais comuns estão:
- Taxa de assessoria técnico-imobiliária (SATI).
- Juros de obra.
- Despesas condominiais antes da entrega das chaves.
Diversas dessas cobranças já foram consideradas abusivas pelo Judiciário.
O comprador tem direito de questionar judicialmente valores indevidos e solicitar reembolso, caso já tenha pago.
A importância do memorial descritivo
O memorial descritivo é o documento que detalha os materiais e acabamentos que serão usados na obra.
É com base nele que o comprador poderá verificar, no momento da entrega, se o imóvel foi entregue conforme o prometido.
Caso haja descumprimento, o consumidor pode exigir reparação, substituição dos materiais ou até indenização.
Por isso, é essencial guardar esse documento junto com o contrato.
Assessoria jurídica especializada
Embora muitos compradores acreditem que não precisam de um advogado, a presença de um profissional especializado em direito imobiliário pode evitar problemas futuros.
O advogado ajuda a revisar o contrato, identificar cláusulas abusivas e orientar em casos de atraso ou inadimplência da construtora.
O custo desse serviço é pequeno se comparado ao valor do investimento em um imóvel e às dores de cabeça que podem ser evitadas.
Questões legais que garantem tranquilidade no futuro
Comprar um imóvel na planta é um passo importante e que exige atenção redobrada aos detalhes jurídicos.
Desde a análise do contrato até a checagem da reputação da construtora, cada etapa deve ser conduzida com cautela.
Entender as regras sobre atrasos, taxas adicionais, registro de incorporação e memorial descritivo pode fazer toda a diferença para evitar prejuízos.
Investir tempo na verificação dos aspectos legais e contar com apoio jurídico especializado não é burocracia em excesso, mas sim um caminho seguro para transformar o sonho da casa própria em realidade sem dores de cabeça.
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